“Brinco que no ‘Vale Encantado de Pinheiros’ todo mundo é consciente, recicla lixo, usa canudos de metal. Tudo lindo, mas ainda é muito embrionário”. Faz menos de um ano que Marina Domingues, 28, começou seu trabalho com os brincos e colares da Bonica Cerâmicas, que mais parecem obra de arte. Jornalista por formação e as mãos por trás da marca — na confecção das peças, busca pela matéria-prima, administração das redes e entrega —, foi à mesa de um café orgânico em Pinheiros, bairro onde mora em São Paulo, que conversamos por horas, mas pareciam segundos.
Ter uma marca não estava nos planos. O gosto pela cerâmica nasceu por hobbie. E os acessórios? “Chega uma hora que cansa de fazer caneca, cumbuca, potinho, cinzeiro, sabe?”, brinca. E assim nasceu o primeiro brinco, o famoso Ameba, que com seu design fluido conquistou uma rede de clientes no Instagram, principal meio de vendas da marca. A seguir, confira como foi um pouco desse bate-bapo:
Marina Domingues usa brincos e colar Ameba da Bonica Cerâmicas. Foto: Stephany Melo/Modavesso
Como tudo começou?
Eu não pensei assim: "vou criar uma marca’". Fiz a primeira leva de acessórios sem nenhuma pretensão e postei no meu Instagram pessoal. Foi lá que as pessoas perguntaram de onde era. Eu falei: "ah, sou eu que faço", então perguntaram ‘você está vendendo?’ e eu falei ‘eu tô’ (risos). Aconteceu!
O que significa “Bonica”?
“Bonica” vem de bonita em catalão, e eu quero que as pessoas se sintam assim. Morei em Barcelona por muito tempo e foi lá, inclusive, que começou minha angústia com a cadeia de produção. Na Espanha estudei Marketing de Moda e a Zara, que é espanhola, foi um case de estudo. Se hoje eles vissem que os colares da Bonica estão na moda, por exemplo, na semana que vem já estarão nas lojas. E isso, claro, inclui um preço de gente que não é paga e uma cadeia de produção que não é justa.
Como essa consciência fashion se encaixa com a sua marca?
Ela é feita por mulher e para mulher. É uma maneira de consumirmos coisas feitas e pensadas para nós. Quando você compra de uma cadeia produtiva a coisa não está sendo pensada especialmente para você, mas para uma massa de pessoas que vão consumir aquilo. A intenção da minha marca é deixar as mulheres mais bonitas, confiantes com o que usar, promover o negócio local e fazer com que as pessoas consumam mais de marcas pequenas. Se a pessoa mora perto de mim e der algum problema na peça, eu vou lá pessoalmente e conserto. Em marcas grandes isso não acontece.
Colares da linha Pedras Brasileiras e colar Ameba, da Bonica cerâmicas. Fotos: Nayara Venâncio e Stephany Melo/Modavesso
Mas por que em cerâmica?
Eu já tinha uma ligação com trabalhos manuais há muito tempo: pintava e gosto de fazer coisas esteticamente bonitas, mas não gosto de desenhar. No ateliê em que eu trabalho hoje em dia, que é compartilhado, isso se reflete. Tem gente que desenha a peça antes de fazer, mas eu não tenho o menor dote e acabo fazendo freestyle. E na cerâmica tem todo um processo: primeiro você faz na argila, seca por uma semana, vem uma queima, depois a pintura e em seguida a segunda queima. Às vezes eu olho e falo “nossa, eu nem sei o que eu fiz aqui” (risos).
Como é o seu processo criativo na hora de fazer as peças?
Meu estilo é muito fluido. No brinco Ameba, por exemplo, eu queria um brinco meio argola: na cerâmica, chamamos o design dele de “cobrinha”. A partir daí, vou equilibrando e, como achei que duas argolas seriam demais, fiz o outro lado pequeno.
Vimos que algumas peças têm cristais. Eles têm algum significado para você?
Eu medito, então gosto muito de usar cristais. Procurei uma maneira de colocar um cristalzinho nas peças por energia mesmo. Eu uso ametista, perita, quartzo rosa, amazonita... Costumo lavar todas e deixar perto de mim enquanto medito para dar uma energia boa. Coisa minha (risos).
Precisamos enxergar que a moda consciente é uma bolha, mas se propagarmos ela vai aumentar.
E você faz parte de todos os processos da marca. Como isso funciona?
Ter um negócio, empreender, não é fácil. No começo me perguntavam “quanto custa?” e eu não sabia quanto cobrar, isso não fazia parte da minha vida. Já em relação às fotos, eu comprei uma pedra de mármore e é nela que fotografo os acessórios, na minha sala mesmo. Já em relação às vendas, eu faço pelo Instagram e as entregas, se forem em locais próximos eu entrego de bike. Mas se não conseguir, eu mando um motoboy ou correio.
Você acha que a moda está tomando um novo rumo?
Essa conscientização ainda é muito pequena e também envolve outra questão: custo. É mais caro você comprar peças que são feitas de uma maneira legal, mas você paga o trabalhador. Acho que é um botar a mão na consciência e pensar “por que eu preciso de dez calças?”, por exemplo. Precisamos enxergar que a moda consciente é uma bolha, mas se propagarmos ela vai aumentar.
O que torna a moda consciente bela para você?
Acho que é fazer as pessoas se sentirem bem com o que vestem sem padrões, sem seguir uma estética imposta. É poder usar o que quiser, quando quiser, e apoiar a sua rede de pessoas. Eu recebo mensagens de meninas que compram e dizem “nossa, me senti muito bem”. Acho que é isso. É comprar de quem faz, de quem tem cuidado, de quem pensou nas pessoas e não em números. A moda consciente é um movimento bem pequeno, mas é um movimento.
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