Os ateliês estão voltando com muita força. No entanto, eles surgem como um novo modelo: cada vez mais inovadores e criativos. Hoje esses espaços são como laboratórios, onde as pessoas podem testar e criar modos de fabricar roupas.
Essa mudança tornou-se possível, pois a consciência na moda criou novas práticas nos consumidores e artesãs. E assim, crescem as iniciativas que fazem o bem para o desenvolvimento social e ambiental do planeta.
Com isso em mente, a designer e professora Marina Ferraz criou a Uhnika um ateliê pequeno, mas eficiente, que mais parece um laboratório, onde busca desenvolver práticas inovadoras e conscientes. A Modavesso conversou com Marina, que explicou como acontece esse processo e como essa prática é importante para a moda nos dias atuais.
ATELIÊ COMO LABORATÓRIO
“Eu abri o ateliê porque queria entregar o produto com qualidade. O ateliê funciona como um laboratório para desenvolver práticas conscientes, porque a inovação é necessária e ela só vai acontecer a partir de pequenos negócios. Lógico que ela pode surgir de grandes empresas, mas você precisa de um projeto-piloto. Isso é um projeto de pesquisa e desenvolvimento, e ele tem que funcionar separado da criação de coleções. E foi assim que a gente teve a ideia de criar o Lab. A Uhnika está inserida aqui, ela é o carro-chefe dessas práticas.”
Temos que começar em pequena escala, mas atingir uma grande massa
INOVAÇÃO PARA CONSCIENTIZAR
“O momento atual do mundo mostra que o desenvolvimento não pode estar desconectado da sustentabilidade, e a inovação em moda não tem como se separar, também. A inovação começa na matéria-prima. E para inovar, precisamos começar em pequenas práticas, com pequenas coisas. Temos que começar em pequena escala, mas atingir uma grande massa. E para isso, você tem que criar um processo produtivo consolidado, com as etapas testadas.”
PROCESSO LABORATORIAL
“Nós fazemos todas as peças-piloto aqui no Lab, tanto para a Uhnika quanto para outras marcas. Mas o processo produtivo, a confecção das peças, algumas coisas fazemos aqui. Porém, a maioria mandamos para oficinas. A maior parte dos nossos parceiros, os costureiros, trabalham em suas casas, por preferência. E buscamos pagar um preço justo pelo seu trabalho. Buscamos ver a disponibilidade de cada um e combinamos uma data de entrega. Depois, voltamos as peças para o Lab e revisamos tudo. Se alguma estiver com defeito, voltamos para o costureiro. Depois passamos, embalamos e entregamos para o cliente.”
RESÍDUO ZERO
“Os resíduos têm duas vertentes aqui no laboratório: primeiro separamos entre grandes e pequenos. Os grandes são estocados em caixas aqui no Lab. No mês passado separamos por cor e por base de tecido. A partir daí, conseguimos enxergar o que poderia ser feito com eles. Começamos a criar uma coleção com esses resíduos, primeiro com tops, pois eles têm a parte de fora e o forro. Já os resíduos pequenos, a gente coloca em sacolas e espera ter muitos resíduos. Na última vez, guardamos 150 kg, colocamos tudo dentro do carro e levamos para uma fábrica em Suzano, onde eles desfibrilam para virar fibra de novo. Assim, ele vira uma estopa multifibras que serve para fazer estofado de automóveis, enchimento de ursos de pelúcia e cobertores para moradores em situação de rua. Ainda não conseguimos uma fábrica que pegue essa estopa, transforme em fio e depois transforme em tecido novamente, o que seria o ideal.”
MODA CONSCIENTE COMO EXPERIMENTO
“O mundo já produz demais. Mas não temos consciência do que estamos comprando. E a moda inova muito rápido, e essa velocidade acaba transformando o comércio em algo fútil. Assim, a moda consciente faz você repensar algumas dessas práticas. Hoje trabalhamos com dois pilares da moda consciente; o resíduo zero e a responsabilidade social, mas existem outros pontos que ainda não conseguimos desenvolver. Por isso trabalhamos como um laboratório, pois estamos experimentado. Vamos ver o que acontece no dia a dia, como é o processo, o que esse processo implica. Fazer uma coleção inteira de tecidos reutilizáveis, os resíduos, demanda muito mais tempo do que criar uma coleção apenas cortando, criando a modelagem e mandando fazer.”
SER CONSCIENTE PARA A VIDA
“Nos últimos anos criou-se uma consciência em torno da moda, mas não de forma restrita. Ser consciente é um estilo de vida. Precisamos criar práticas sustentáveis, e assim, conseguir um desenvolvimento social e ambiental para as gerações futuras.”
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