“163 bolsas, bijoux, cintos, sapatos e botas que esquentam seu look de inverno”, “340 peças que atualizam de imediato o seu visual”... Provavelmente, você já está familiarizada com essas expressões. Afinal, elas estão nas capas das revistas que encontrei na minha casa — provavelmente, também chegaram até você e, não por acaso, vez ou outra passa pela sua cabeça aquela frase, um clichê agoniante: “Não tenho nada para vestir!”.
Calma, pois você não está sozinha. Em uma pesquisa online realizada entre agosto e setembro de 2018 pelo Modavesso, que ouviu 112 pessoas, 72,3% delas responderam que precisam de mais roupas, apesar de 76,8% não saberem de onde vêm, por quem foram feitas e em quais condições. Por outro lado, estima-se que a indústria da moda seja a oitava mais poluente do mundo, aponta o Pulse of the Fashion Industry de 2017, em um comparativo feito apenas em relação às emissões de carbono — que vale lembrar, já superam cerca de 20% do que é considerado seguro.
Se a papisa da moda, Costanza Pascolato, já mostrou em seu livro “O Essencial” que o estilo é a “impressão do seu caráter, a sua atitude”, por que não assumir uma atitude mais consciente? Daí entra o ponto principal: 49,1% ainda não sabem o que é a moda consciente. Mas se por um lado existe a falta de conhecimento, por outro nós enxergamos o interesse de 88,4% em saber mais sobre suas roupas. É aí que o papel da comunicação — inclusive do jornalismo — precisa brilhar.
Com a crise do impresso, não foi surpresa ver o fechamento de grandes títulos, entre eles a Elle que, em sua última edição nos trouxe um toque de esperança — ou seria de realidade? Em uma abordagem sobre escolhas responsáveis, processos transparentes e consciência social, ela confirmou não só um novo olhar para a moda, mas reforçou o formato de fazer jornalismo: o digital.
Ok, mas onde você, leitora, entra nessa história? Se já leu o perfil que fizemos com a costureira Mariza, sabe que a indústria têxtil ocupa, no mundo, o segundo lugar na exploração de trabalhos análogos à escravidão, aponta a pesquisa The Global Slavery Index 2018. Dentro desta realidade, 71% das vítimas são mulheres, como você e eu.
André Carvalhal, autor do livro Moda com propósito questionou se o descarte impulsionado pela moda ainda continua fazendo sentido, como foi na primeira marca em meados de 1857. A época é outra. O público mudou. Perceber o interesse das pessoas por trás da moda é notar que ela está tomando um novo rumo e o jornalismo, consequentemente, faz parte disso.
Moda consciente é saber de onde vêm suas roupas, como foram feitas, por quem, com qual material e o porquê. Saber e poder decidir. Ter este conhecimento ainda é difícil: poucas marcas divulgam, poucas pesquisas são feitas. Precisamos questionar. Pensar a moda como infinita é ignorar o meio ambiente, a sociedade e o nosso futuro.